Resistir à saudade
Portugal foi durante muitos anos um país de emigrantes, contudo, hoje em dia, é um país que recebe cada vez mais pessoas de outros países por variadas razões. Alguns sacrificam-se e saem dos seus países de origem para terem uma vida melhor. Outros aventuram-se à descoberta de outras realidades.
Há também quem siga o seu coração e foi o que fez a sorridente Carolina Silva que tem 23 anos e veio há já um ano do Recife, no Brasil, para Portugal após ter casado com o seu marido que já vivia em Albufeira há nove anos. Carolina gosta de viver em Albufeira e adora trabalhar com o público no Café da Fnac do Algarve Shopping.
As questões religiosas são muito importantes para Carolina e, foi por isso, que se admirou tanto com o facto do povo português não ser tão religioso como ela imaginava, “Os jovens aqui não vão á missa!”. Ainda assim, Carolina não perdeu tempo e já visitou Fátima. Quando chegou a Portugal Carolina diz ter percebido logo que as mulheres brasileiras têm má fama e isso no inicio prejudicou a sua integração na sociedade. Agora já não a discriminam e conseguiu até fazer bons amigos. “Agora sinto que já consegui o respeito merecido.”
Apesar de falar o português do Brasil, Carolina acha que é necessário aprender a falar português de Portugal devido aos vocábulos tão distintos entre as duas línguas. Um dos vocábulos que considera mais engraçados é o telemóvel e não celular. “É tudo igual e tudo diferente. Tudo com o jeitinho que não é do mesmo jeito!”.
A mudança para Albufeira foi boa e Carolina fá-la-ia outra vez, se necessário, mas sente muitas saudades de casa. Talvez por isso diz não querer ficar em Portugal para sempre pois sonha em conhecer o Mundo inteiro quando estiver reformada e eventualmente voltar para a sua terra, Recife.
Todos os dias fala com os seus amigos pela Internet e continua a fazer as comidas típicas brasileiras que a levam de volta a casa por minutos.
Laura Lee todos os fins de semana se senta num bar irlandês como o Hennessy’s e tal como a Carolina utiliza a comida para se sentir mais em casa. Laura pede um pequeno-almoço inglês e lê os jornais ingleses da semana pondo-se a par de todas as novidades de Liverpool, em Inglaterra, a sua terra natal.
Laura tem 28 anos e é uma pessoa aventureira e assim que saiu da universidade decidiu mudar-se para o Japão e dar aulas de inglês lá, fez isso apenas pela experiência mas acabou por gostar muito de ensinar. O próximo passo foi procurar outro país para onde se aventurar e Portugal foi o que lhe apresentava um estilo de vida e um salário melhor. Pouco sabia sobre Portugal além de uma vaga ideia sobre o Algarve, mas foi para Lisboa que Laura veio ensinar numa Cambridge School, já há quatro anos. Ficou agradavelmente surpreendida com os portugueses e gosta muito de viver em Lisboa.
A maior dificuldade que sentiu há quatro anos atrás foi a língua, embora agora se faça sempre entender quando necessário, quer aprender mais sobre a língua portuguesa. Agora Laura apenas sente uma dificuldade, as saudades de casa. Por isso fala ao telefone com a família todas as semanas e usa o programa Skype para falar com amigos.
Ainda assim Laura gosta muito dos restaurantes e bares de Lisboa assim como os Monumentos. O que ela não gosta é de ver pintados os graffiti em todo o lado, na casa das pessoas e até nos Monumentos. Se pudesse era isso que Laura mudaria em Lisboa, arranjaria uma área especifica para a arte dos graffiti. Apesar disso, Laura planeia ficar cá por muitos mais anos, pois considera a sua vinda para Portugal uma mudança boa.
José Ronaldo Silva, por outro lado, diz ficar cá até não aguentar mais as saudades da sua cidade natal, Pernambuco no Brasil. José tem 39 anos e está a viver em Albufeira há seis anos, apenas porque um dia pensou em aventurar-se e juntar se ao irmão que já cá vivia.
José quando chegou não sentiu muitas dificuldades em integrar-se com a exceção de alguma discriminação que sentiu ao inicio. José pensa que isto acontece devido á má fama que os brasileiros têm, e isso não ajuda muito na hora de fazer amigos. “Os portugueses quando conhecem começam a ter confiança e são amigos, mas demora algum tempo. Eu cá tenho muitos conhecidos e como todo o mundo tenho poucos amigos…”.
Para José a mudança para Portugal foi muito positiva, pois esta fê-lo crescer e assentar. Assim, gosta muito de Albufeira mas acha que os albufeirenses estão a aproveitar mal o turismo. “Não criam polos atrativos para cativar os turistas”. Pernambuco e Albufeira são diferentes e as maiores diferenças estão na festa constante que Pernambuco tem e mais atividades para se fazer, como por exemplo, o teatro.
Voltar a casa não é fácil, pois José diz que as viagens são muito caras. Em seis anos foi a casa duas vezes. Por isso as saudades vão apertando, e para combatê-las José ouve música brasileira e passeia nas praias de Albufeira que afirma serem parecidas às da sua cidade. Sejam saudades dos seus pais, da sua família, da sua cidade, das festas religiosas e até dos cheiros a que estava habituado, José vai resistindo à saudade.
John Lee de 28 anos, pelo contrário, não sente praticamente saudades. Desde dos 18 anos que saiu de casa em Liverpool para estudar e trabalhar, e agora vive em Lisboa há já 5 anos. Foi parar a Lisboa apenas porque queria um sitio quente, onde pudesse ensinar inglês e que não fosse muito longe de casa. Contudo agora diz que voltaria, de certeza absoluta, a escolher outra vez Lisboa para viver.
A mudança para Lisboa foi positiva e trouxe-lhe a oportunidade de aprender uma língua nova, o português. Teve aulas durante dois anos e acha que não é uma língua muito difícil. É pena pôr tão pouco em prática o seu português, pois John diz que sempre que tenta falar em português com alguém, acabam por lhe responder em inglês. “É um pouco ofensivo. Quando eu sei que estou a falar bem, mas assim que percebem que sou inglês parece que fazem um esforço para não perceber. Mas, fazem-no para ajudar, porque há muita gente estrangeira cá e eles não estão habituados a que falem português”.
John gosta muito de viver aqui e adora ensinar inglês na Cambridge School de Benfica. Ensinar não era algo que planeava fazer permanentemente. Dar aulas era apenas algo para pagar as viagens que ia fazendo. Mas, depressa descobriu que esta era a sua vocação e gosta bastante dos alunos portugueses. “Aqui em Lisboa as pessoas têm um bom nível de inglês por causa da televisão que oferece muitos programas em inglês, o que me facilita o trabalho”.
Como amante de viagens que é, John visitou várias cidade de Portugal e descobriu que gosta mais do Norte, pois acha que as pessoas de lá são mais parecidas aos ingleses. O sitio com o qual se identifica menos é o Algarve: “O Algarve é um sitio estranho para mim, quase não se vê portugueses. É só turistas”.
O rio, as praias e também a zona mais antiga de Lisboa – Alfama e Chiado – são o que John prefere em Lisboa. Por ele não existiriam centros comerciais e o investimento seria feito nas zonas mais antigas para as recuperar e dar uma nova vida.
A maior diferença entre a sua terra natal, Liverpool, e Lisboa é o clima, mas John, no entanto, considera as duas cidades bastante parecidas, pois ambas têm um rio e um porto e são mais ou menos do mesmo tamanho. É por isso que John sente poucas saudades de casa e planeia continuar cá por muitos anos, embora mantenha sempre o sonho de um dia voltar a viajar.
Porém, há quem tenha vindo em busca de uma vida melhor e nunca deixe de ter saudades. Maria Ângela tem 60 anos, veio de Maputo, Moçambique, há já 30 anos para Lisboa viver.
Mª Ângela diz ter sido bastante complicado para ela, ao inicio, integrar-se na sociedade portuguesa, pois não conhecia ninguém e além disso o estilo de vida e o clima de Maputo eram muito diferentes da realidade em Lisboa.
Passados 30 anos está completamente integrada na sociedade e acha que se voltasse a Moçambique, seria lá que não se sentiria bem. As únicas dificuldades que sente, agora, na sua vida são as saudades. Para se sentir mais em casa e para se relembrar de memórias Mª Ângela ouve um cantor moçambicano João Maria Tudela. “Agora sinto a falta da família que fui perdendo ao longo dos anos”.
A distância que a separa dos seus entes queridos é a maior que pode existir. Mas Mª Ângela continua todos os dias com a sua vida, admirando o que mais gosta de Lisboa, as praias. E vai resistindo à saudade. “Moçambique é com certeza/ Uma expressão nacional/ A palavra é portuguesa/ E quer dizer Portugal (…)” – João Mª Tudela/Moçambique.
Há também quem siga o seu coração e foi o que fez a sorridente Carolina Silva que tem 23 anos e veio há já um ano do Recife, no Brasil, para Portugal após ter casado com o seu marido que já vivia em Albufeira há nove anos. Carolina gosta de viver em Albufeira e adora trabalhar com o público no Café da Fnac do Algarve Shopping.
As questões religiosas são muito importantes para Carolina e, foi por isso, que se admirou tanto com o facto do povo português não ser tão religioso como ela imaginava, “Os jovens aqui não vão á missa!”. Ainda assim, Carolina não perdeu tempo e já visitou Fátima. Quando chegou a Portugal Carolina diz ter percebido logo que as mulheres brasileiras têm má fama e isso no inicio prejudicou a sua integração na sociedade. Agora já não a discriminam e conseguiu até fazer bons amigos. “Agora sinto que já consegui o respeito merecido.”
Apesar de falar o português do Brasil, Carolina acha que é necessário aprender a falar português de Portugal devido aos vocábulos tão distintos entre as duas línguas. Um dos vocábulos que considera mais engraçados é o telemóvel e não celular. “É tudo igual e tudo diferente. Tudo com o jeitinho que não é do mesmo jeito!”.
A mudança para Albufeira foi boa e Carolina fá-la-ia outra vez, se necessário, mas sente muitas saudades de casa. Talvez por isso diz não querer ficar em Portugal para sempre pois sonha em conhecer o Mundo inteiro quando estiver reformada e eventualmente voltar para a sua terra, Recife.
Todos os dias fala com os seus amigos pela Internet e continua a fazer as comidas típicas brasileiras que a levam de volta a casa por minutos.
Laura Lee todos os fins de semana se senta num bar irlandês como o Hennessy’s e tal como a Carolina utiliza a comida para se sentir mais em casa. Laura pede um pequeno-almoço inglês e lê os jornais ingleses da semana pondo-se a par de todas as novidades de Liverpool, em Inglaterra, a sua terra natal.
Laura tem 28 anos e é uma pessoa aventureira e assim que saiu da universidade decidiu mudar-se para o Japão e dar aulas de inglês lá, fez isso apenas pela experiência mas acabou por gostar muito de ensinar. O próximo passo foi procurar outro país para onde se aventurar e Portugal foi o que lhe apresentava um estilo de vida e um salário melhor. Pouco sabia sobre Portugal além de uma vaga ideia sobre o Algarve, mas foi para Lisboa que Laura veio ensinar numa Cambridge School, já há quatro anos. Ficou agradavelmente surpreendida com os portugueses e gosta muito de viver em Lisboa.
A maior dificuldade que sentiu há quatro anos atrás foi a língua, embora agora se faça sempre entender quando necessário, quer aprender mais sobre a língua portuguesa. Agora Laura apenas sente uma dificuldade, as saudades de casa. Por isso fala ao telefone com a família todas as semanas e usa o programa Skype para falar com amigos.
Ainda assim Laura gosta muito dos restaurantes e bares de Lisboa assim como os Monumentos. O que ela não gosta é de ver pintados os graffiti em todo o lado, na casa das pessoas e até nos Monumentos. Se pudesse era isso que Laura mudaria em Lisboa, arranjaria uma área especifica para a arte dos graffiti. Apesar disso, Laura planeia ficar cá por muitos mais anos, pois considera a sua vinda para Portugal uma mudança boa.
José Ronaldo Silva, por outro lado, diz ficar cá até não aguentar mais as saudades da sua cidade natal, Pernambuco no Brasil. José tem 39 anos e está a viver em Albufeira há seis anos, apenas porque um dia pensou em aventurar-se e juntar se ao irmão que já cá vivia.
José quando chegou não sentiu muitas dificuldades em integrar-se com a exceção de alguma discriminação que sentiu ao inicio. José pensa que isto acontece devido á má fama que os brasileiros têm, e isso não ajuda muito na hora de fazer amigos. “Os portugueses quando conhecem começam a ter confiança e são amigos, mas demora algum tempo. Eu cá tenho muitos conhecidos e como todo o mundo tenho poucos amigos…”.
Para José a mudança para Portugal foi muito positiva, pois esta fê-lo crescer e assentar. Assim, gosta muito de Albufeira mas acha que os albufeirenses estão a aproveitar mal o turismo. “Não criam polos atrativos para cativar os turistas”. Pernambuco e Albufeira são diferentes e as maiores diferenças estão na festa constante que Pernambuco tem e mais atividades para se fazer, como por exemplo, o teatro.
Voltar a casa não é fácil, pois José diz que as viagens são muito caras. Em seis anos foi a casa duas vezes. Por isso as saudades vão apertando, e para combatê-las José ouve música brasileira e passeia nas praias de Albufeira que afirma serem parecidas às da sua cidade. Sejam saudades dos seus pais, da sua família, da sua cidade, das festas religiosas e até dos cheiros a que estava habituado, José vai resistindo à saudade.
John Lee de 28 anos, pelo contrário, não sente praticamente saudades. Desde dos 18 anos que saiu de casa em Liverpool para estudar e trabalhar, e agora vive em Lisboa há já 5 anos. Foi parar a Lisboa apenas porque queria um sitio quente, onde pudesse ensinar inglês e que não fosse muito longe de casa. Contudo agora diz que voltaria, de certeza absoluta, a escolher outra vez Lisboa para viver.
A mudança para Lisboa foi positiva e trouxe-lhe a oportunidade de aprender uma língua nova, o português. Teve aulas durante dois anos e acha que não é uma língua muito difícil. É pena pôr tão pouco em prática o seu português, pois John diz que sempre que tenta falar em português com alguém, acabam por lhe responder em inglês. “É um pouco ofensivo. Quando eu sei que estou a falar bem, mas assim que percebem que sou inglês parece que fazem um esforço para não perceber. Mas, fazem-no para ajudar, porque há muita gente estrangeira cá e eles não estão habituados a que falem português”.
John gosta muito de viver aqui e adora ensinar inglês na Cambridge School de Benfica. Ensinar não era algo que planeava fazer permanentemente. Dar aulas era apenas algo para pagar as viagens que ia fazendo. Mas, depressa descobriu que esta era a sua vocação e gosta bastante dos alunos portugueses. “Aqui em Lisboa as pessoas têm um bom nível de inglês por causa da televisão que oferece muitos programas em inglês, o que me facilita o trabalho”.
Como amante de viagens que é, John visitou várias cidade de Portugal e descobriu que gosta mais do Norte, pois acha que as pessoas de lá são mais parecidas aos ingleses. O sitio com o qual se identifica menos é o Algarve: “O Algarve é um sitio estranho para mim, quase não se vê portugueses. É só turistas”.
O rio, as praias e também a zona mais antiga de Lisboa – Alfama e Chiado – são o que John prefere em Lisboa. Por ele não existiriam centros comerciais e o investimento seria feito nas zonas mais antigas para as recuperar e dar uma nova vida.
A maior diferença entre a sua terra natal, Liverpool, e Lisboa é o clima, mas John, no entanto, considera as duas cidades bastante parecidas, pois ambas têm um rio e um porto e são mais ou menos do mesmo tamanho. É por isso que John sente poucas saudades de casa e planeia continuar cá por muitos anos, embora mantenha sempre o sonho de um dia voltar a viajar.
Porém, há quem tenha vindo em busca de uma vida melhor e nunca deixe de ter saudades. Maria Ângela tem 60 anos, veio de Maputo, Moçambique, há já 30 anos para Lisboa viver.
Mª Ângela diz ter sido bastante complicado para ela, ao inicio, integrar-se na sociedade portuguesa, pois não conhecia ninguém e além disso o estilo de vida e o clima de Maputo eram muito diferentes da realidade em Lisboa.
Passados 30 anos está completamente integrada na sociedade e acha que se voltasse a Moçambique, seria lá que não se sentiria bem. As únicas dificuldades que sente, agora, na sua vida são as saudades. Para se sentir mais em casa e para se relembrar de memórias Mª Ângela ouve um cantor moçambicano João Maria Tudela. “Agora sinto a falta da família que fui perdendo ao longo dos anos”.
A distância que a separa dos seus entes queridos é a maior que pode existir. Mas Mª Ângela continua todos os dias com a sua vida, admirando o que mais gosta de Lisboa, as praias. E vai resistindo à saudade. “Moçambique é com certeza/ Uma expressão nacional/ A palavra é portuguesa/ E quer dizer Portugal (…)” – João Mª Tudela/Moçambique.